Ana Carolina Alcici
Psicóloga clínica. Psicanalista em formação pela SPRJ. Membro da Trieb Mineira.

 

O luto é a dor esperada e consciente que sentimos quando perdemos alguém ou algo que amamos. Pode ser a morte de uma pessoa querida, o fim de um relacionamento ou até mesmo a perda de uma ideia ou projeto importante. No luto, o mundo parece esvaziado, tudo perde o brilho. É um processo doloroso, sim, mas natural.

Ao longo do texto “Luto e Melancolia”, Freud aborda o trabalho de elaboração do luto e considero essa uma expressão muito precisa para descrever o que vivemos nesse processo. Luto é trabalho: exige energia, consome forças e pode nos afetar em diferentes intensidades. Precisamos reconfigurar nossa percepção do mundo diante da ausência de algo que foi profundamente significativo para nós.

É como se precisássemos desligar, aos poucos, a energia psíquica que estava investida naquele objeto – peça por peça, pedaço por pedaço -, enfrentando a dura verificação da realidade: o objeto amado não está mais aqui. E, para seguir vivendo, precisamos reinvestir essa energia em outros vínculos, outras presenças, outros sentidos. A dor vai, então, lentamente, cedendo lugar à saudade. E o objeto perdido permanece dentro de nós transformado em memória.

Mas, ao pensar no luto como trabalho – lento, custoso, doloroso -, esta é a pergunta que me faço: em uma época que introspecção, silêncio e pausa estão cada vez mais escassos, como estamos lidando com nossos lutos? Será que conseguimos manter o espaço psíquico necessário para que esse trabalho aconteça? Estamos podendo suportar a dor e a angústia que fazem parte do percurso?

Talvez possamos, pouco a pouco, reivindicar o direito de sofrer, de parar, de elaborar, de não estar bem o tempo todo. O luto é um processo vital e precisa de tempo, escuta e cuidado.

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