Isabella Lasmar
Psicóloga clínica. Psicanalista em formação pela SPRJ. Membro da Trieb Mineira.
Muitos pais enfrentam dificuldades em sustentar limites na relação com os filhos. Esse impasse, muitas vezes travestido de cuidado ou respeito à individualidade da criança, pode, sob o olhar psicanalítico, revelar conflitos inconscientes mais profundos. A dificuldade em frustrar, em dizer “não”, frequentemente se articula a sentimentos de culpa por ausências, separações, medo da rejeição ou dificuldade de ocupar o lugar de autoridade.
O medo de frustrar não se refere apenas ao desconforto da criança, mas também ao quanto essa frustração ressoa no adulto. Em muitos casos, às vezes de forma inconsciente, os pais buscam reparar dores da própria infância. Outros, pela sobrecarga ou ausência, tendem a compensar concedendo em excesso, como tentativa de manter a conexão, evitar conflitos e desconfortos.
Frustrar um filho também é suportar, como adulto, o sofrimento de vê-lo frustrado. Isso implica trabalhar internamente os próprios afetos e abrir mão da fantasia de ser amado o tempo todo para, de fato, amar com responsabilidade. Mas quando esse sofrimento é intolerável para os pais, é comum que evitem assumir o papel de quem frustra, como se isso os colocassem no lugar de maus ou rejeitadores.
Autoridade não é autoritarismo, e limite não é castigo nem opressão, é cuidado psíquico. O ”não” do adulto oferece à criança a experiência da alteridade: um outro que existe para além dela, que pensa e sente de forma autônoma. Esse encontro é o que permite à criança diferenciar-se, acessar o mundo simbólico e desenvolver recursos para lidar com a realidade. A ausência de limites, por outro lado, produz um vazio de referências. A criança, sem contorno simbólico, vive em um mundo onde tudo é possível, mas nada é seguro.
É justamente o limite claro, firme e afetuoso, que oferece segurança emocional à criança, dando condições para que perceba que há alguém ali que pode conter, organizar, e nomear o que ela ainda não sabe simbolizar. Portanto, o “não” é uma marca estruturante e organizadora do psiquismo, e colocar limites, é um ato de amor.