Ana Carolina Alcici
Psicóloga clínica. Psicanalista em formação pela SPRJ. Membro da Trieb Mineira.
A nova produção da Netflix, Adolescência, tem gerado um intenso debate dentro e fora das redes. Com apenas quatro episódios, a minissérie conta a história de Jamie, um adolescente de 13 anos acusado do assassinato de Katie, sua colega de escola.
A obra aborda temas complexos e urgentes: adolescência, relações com os pais, escola, redes sociais, gênero, misoginia, bullying, entre outros. Mas o que mais me chamou atenção foi a forma como foi a série foi filmada — elemento central em sua carga dramática.
Todos os episódios são gravados em plano-sequência, ou seja, sem cortes. Essa escolha vai à contramão da lógica dos vídeos curtos e dinâmicos que dominam a internet. E o efeito é potente: não conseguimos desviar o olhar, e a ausência de cortes nega ao espectador o respiro que, normalmente, faz lembrar de que se trata de uma ficção.
A narrativa apresenta uma realidade brutal de sofrimento — por todos os lados — e nos reconecta com o tempo real, em uma era que não tolera esperas. Os silêncios e vazios são rapidamente preenchidos por estímulos que dificultam o contato com os nossos pensamentos e sentimentos. Nesse processo, deixamos de perceber tanto o mundo externo quanto o interno.
Esse entorpecimento individual e coletivo leva a uma alienação que pode resultar em tragédias — como vemos na série. A experiência imersiva proporcionada pela obra mostra que a vida não tem edição, e fugir do que incomoda não protege ninguém — apenas nos afasta da chance de compreender, sentir, transformar. E a vida, como a série traz, não espera que estejamos prontos.