Isabella Lasmar
Psicóloga clínica. Psicanalista em formação pela SPRJ. Membro da Trieb Mineira.

 

Nos últimos anos, tem sido cada vez mais evidente o aumento do tempo que crianças passam diante das telas. Esse uso, muitas vezes excessivo, levanta questões importantes sobre como a tecnologia afeta o desenvolvimento infantil. Quando olhamos para isso sob a ótica da psicanálise, percebemos que o impacto vai além do comportamento: ele toca profundamente o psiquismo da criança.

A psicanálise, em especial nas contribuições de Winnicott e Melanie Klein, mostra que o psiquismo infantil se constrói nas primeiras relações com os cuidadores da criança. Assim, o vínculo afetivo, o brincar espontâneo e o contato direto com o outro, são fundamentais na formação da subjetividade. Quando a tela substitui essas experiências, o espaço de criação interna e de simbolização pode ser prejudicado.

O que chama atenção é como o excesso de estímulos digitais oferece tudo pronto (imagens, sons, respostas), deixando pouco espaço para que a criança crie suas próprias histórias, sentimentos ou soluções. O tédio, tão necessário para que a criatividade possa surgir, acaba se tornando ausente, o que limita a capacidade de imaginar e simbolizar.

Outro ponto delicado é o impacto nas relações afetivas. Em muitas famílias, é possível observar que momentos de convivência são substituídos pelas telas, tanto por parte das crianças quanto dos adultos. Isso enfraquece os vínculos, a escuta e o olhar atento, que são essenciais para o desenvolvimento emocional.

Entre as consequências observadas estão as dificuldades de atenção, irritabilidade, alterações do sono, empobrecimento do vocabulário, do brincar, e da capacidade criativa. Por isso, acredito que mais do que limitar o uso das telas, precisamos refletir sobre o que estamos oferecendo no lugar delas. O que substitui a presença, o toque, o brincar?

A tecnologia pode, sim, fazer parte da infância, mas não deve ocupar o lugar das experiências que formam o sujeito. Não se trata de demonizar as telas, mas de encontrar um equilíbrio que preserve aquilo que é mais humano: o contato, o brincar, a presença e o vínculo com o outro.

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